HISTÓRIA DA FILOSOFIA
Como todas as criações e instituições humanas a filosofia está na história e tem uma história.
a) Está na História: a filosofia manifesta e exprime os problema e questões que em cada época de uma sociedade, os homens colocam para si mesmo, diante do que é novo e ainda não foi compreendido.
b) Tem uma História: as respostas, as soluções e as novas perguntas que os filósofos de uma época oferecem tornam-se saberes adquiridos que outros filósofos prosseguem ou frequentemente, tornam-se novos problemas que outros filósofos tentam resolver, seja criticando-o e refutando-o.
Principais Períodos da História da Filosofia
1) FILOSOFIA ANTIGA
- período: do século VI a.C. ao século VI d.C.
- compreende os períodos: pré-socrático, socrático, sistemático e helenístico e a filosofia patrística.
a) Período Pré-Socrático ou Cosmológico:
- do final do século VII ao final do século V a.C.
Quando a filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das transformações da natureza.
Principais filósofos: Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito de Éfeso, Pitágoras de Samos, Xenófanes de Colofão, Parmênides de Eléia, Zenão de Eléia, Melisso de Samos, Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazómena, Leucipo de Samos, Demócrito de Abdera.
b) Período Socrático ou Antropológico:
- do final do século V e todo o século IV a.C.
Quando a filosofia investiga as questões humanas, isto é, a ética, a política e as técnicas (em grego, antropos = homem; por isso o período recebeu o nome de antropológico).
Principais filósofos: Sócrates, Platão e Aristóteles.
c) Período Sistemático:
- do final do século IV ao final do século III a.C.
Quando a filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado sobre a cosmologia e a antropologia, interessando-se sobretudo em mostrar que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico, desde que as leis do pensamento e de suas demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer critérios da verdade e da ciência.
d) Período Helenístico ou Grego-romano:
- do final do século III a.C., até o século VI d.C.
Neste longo período que já alcança Roma e o pensamento dos primeiros padres da Igreja, a filosofia se ocupa sobretudo com as questões da ética, do conhecimento humano e das relações entre o homem e a natureza e de ambos com Deus.
Principais filósofos:
- cinismo: Diógenes de Laercio
- epicurismo:, Epícuro, Lucrécio, Zenão de Cício, Crisipo
- cetismo: Pirro de Elida
- ecletismo: Arcesilau, Fílon de Larissa, Antíoco de Ascalon
- neoestoicismo: Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio,
- neoaristotelismo: Andrônico de Rodas
- neoplatonismo: Plotino
e) Patrística:
- do século I ao século VII
- início: com as carta de São Paulo e o Evangelho de São João e termina no século VIII, quando teve início a filosofia medieval.
- a patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e João) e pelo primeiros padres da Igreja para conciliar a nova religião – o cristianismo – com o pensamento filosófico dos gregos e dos romanos, pois somente com tal conciliação seria possível converter os pagãos da nova verdade e converte-los a ela. A filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos.
Principais filósofos:
- apologistas gregos: Aristides, Justino e Taciano
- escola catequética de Alexandria: Clemente e Orígenes
- capadócios: Pseudo-Dionísio Areopagita, Maximo o Confessor e João Damasceno, Gregório de Nissa
- latinos: Santo Ambrósio, Santo Agostino
2) FILOSOFIA MEDIEVAL
- período: do século VIII ao século XIV
- abrange pensadores europeus, árabes e judeus. É o período em que a Igreja Católica Romana dominava a Europa, ungia e coroava reis, organizava as Cruzadas à Terra Santa e criava, à volta das catedrais, as primeiras universidades. E, a partir do século XII, por ter sido ensinada nas escolas, a filosofia medieval também é conhecida com o nome de Escolástica.
- a filosofia medieval teve influencia de Platão e Aristóteles.
- durante este período surge a filosofia cristã ou teologia com temas como: provas da existência de Deus e da alma, diferença entre infinito (Deus) e finito (mundo, homem), diferença entre fé e razão, diferença entre corpo e alma.
Principais filósofos:
- Joaquim de Fiori, Severino Boécio, João Escoto Eriúgena
- século XI: Anselmo de Aosta, Pedro Abelardo, São viror, pedro Lombardo, Joao de Salisbury.
- século XII: Avicena, Averrís, Santo Tomás de Aquino, São Boaventura
- século XIII: João Duns Escoto.
- século XIV: Guilherme de Ockham, Egídio Romano e João de Paris, João Wyclif, João Huss, Mestre Eckhart.
3) FILOSOFIA DA RENASCENÇA
-período: do século XIV ao século XVI
- é marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade Média, de novas obras de Aristóteles, bem como pela recuperação das obras de grandes autores e artistas gregos e romanos.
- são três grandes linhas do pensamento:
a) Platão: o neoplatonismo destaca a descoberta dos livros do Hermetismo onde se destaca a idéia da Natureza com um grande ser vivo, o homem faz parte da natureza como um microcosmo (como espelho do universo inteiro) e pode agir sobre ela através da magia natural, da alquimia e da astrologia, pois o mundo é constituído por vínculos e ligações secretas (a simpatia) entre as coisas; o homem pode, também, conhecer esses vínculos e criar outros, como um deus.
b) Pensadores Florentinos: valoriza a vida ativa, isto é, a política, e defendia os ideais republicanos das cidades italianas contra o Império Romano-Germânico, isto é contra o poderio dos papas e dos imperadores.
c) Homem: ideal do homem como artífice de seu próprio destino, tanto através dos conhecimentos (astrologia, magia, alquimia) quanto através da política (o ideal republicano), das técnicas (medicina, arquitetura, engenharia, navegação) e das artes (pintura, escultura, literatura, teatro).
- a efervescência teórica e prática foi alimentada com as grandes descobertas marítimas, que garantiam ao homem o conhecimento de novos mares, novos céus, novas terras e novas gentes, permitindo-lhe ter uma visão crítica de sua própria sociedade.
- essa efervescência cultural e política levou a críticas profundas à Igreja Católica Romana, culminando na Reforma Protestante, baseada na idéia de liberdade de crença e de pensamento. À Reforma a Igreja respondeu com a Contra-Reforma e com o agravamento do poder da Inquisição.
- principais filósofos: Giordano Bruno, Campannella, Maquiável, Thomas Morus, Jean Bodin, Montaigne, Kepler, Nicolau de Cusa.
4) FILOSOFIA MODERNA
- período: do século XVII a meados do século XVIII
- esse período, conhecido como o Grande Racionalismo Clássico, é marcado por três grandes mudanças intelectuais:
a) surgimento do conhecimento: filosofia começa a indagar qual é a capacidade do intelecto humano para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos.
b) capacidade de conhecer: tudo o que pode ser conhecido deve poder ser transformado num conceito ou numa idéia clara e distinta, demonstrável e necessária formulada pelo intelecto.
c) idéia de experimentação e de tecnologia: conhecimento teórico que orienta as intervenções práticas e o ideal de que o homem poderá dominar tecnicamente a Natureza e a sociedade.
- a razão humana é capaz de conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções e, pela vontade orientada pelo intelecto, é capaz de governá-las e domina-las, de sorte que a vida ética pode ser plenamente racional.
- predomina, assim, nesse perídio, a ideia de conquista científica e técnica de toda a realidade, a partir da explicação mecânica e matemática do Universo e da invenção das maquinas, graças às experiências físicas e químicas.
- racionalismo: a razão é capaz de conhecer a origem, as causas e os efeitos das paixões e das emoções e, pela vontade orientada pelo intelecto, é capaz de governa-las e domina-las, de sorte que a vida ética pode ser racional.
- racionalismo político: a ideia de que a ração é capaz de definir para cada sociedade qual o melhor regime político e como mantê-lo racionalmente.
- principais filósofos: Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, Hobbes, Espinosa, Leibniz, Locke, Newton.
5) FILOSOFIA DA ILUSTRAÇÃO OU ILUMINISMO
período: meados do século XVIII ao começo do século XIX
- esse período também crê nos poderes da razão, chamada de As Luzes (por isso, o nome Iluminismo), que afirma:
- pela razão o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política.
- a razão é capaz de evolução e progresso, e o homem é um ser perfectível (libertando-se dos preconceitos religiosos, sociais e morais; graças ao conhecimento, às ciências, às artes e à moral).
- aperfeiçoamento da razão se realiza pelo progresso das civilizações.
- grande interesse pelas ciências que se relacionam com a idéia de evolução.
- interesse pela compreensão das bases econômicas da vida social e política.
- principais filósofos: Hume, Voltaire, D’Alembert, Diderot, Rousseau, Kant, Fichte, Schelling.
6) FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
- período: meados do século XIX e chega aos nossos dias.
- questões discutidas:
a) História:
- século XIX: descoberta da história ou da historicidade do homem, d sociedade, das ciências e das artes. Segundo Hegel a História é o modo de ser da razão e da verdade, o modo de ser dos seres humanos e que, portanto, somos seres históricos.
- século XX: a história é descontínua e não progresiva, cada sociedade tendo sua História própria em vez de ser apenas uma etapa numa História universal das civilizações.
b) Progresso:
- século XIX: os seres humanos, as sociedades, as ciências, as artes e as técnicas melhoraram com o passar do tempo, acumularam conhecimento e praticas, aperfeiçoando-se cada vez mais, de modo que o presente é melhor e superior, se comparado ao passado, e o futuro, se comparado com o presente.
- século XX: a ideia de progresso passa a ser criticada porque serve como desculpa para legitimar colonialismos e imperialismos (os mais adiantados teriam o direito de dominar os mais atrasados). Passa também ser criticada a ideia de progresso das ciências e das técnicas, não havendo, transformação contínua, acumulativa e progressiva. O passado foi o passado, o presente é o presente e o futuro será o futuro.
c) Ciências e técnicas:
- século XIX: entusiasmada com as ciências e as técnicas, bem como a Segunda Revolução Industrial, a filosofia afirmava a confiança plena e total no saber científico e na tecnologia para dominar e controlar a Natureza, a sociedade e os indivíduos.
- século XX: passou a desconfiar do otimismo científico-tecnológico do século anterior em virtude de vários acontecimentos: as duas guerras mundiais, o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, compôs de concentração nazistas, as guerras da Coréia, do Oriente Médio, o Afeganistão, ditaduras da América Latina, devastação dos mares, florestas e terras, poluição do ar...
d) Utopia revolucionárias
- século XIX: a filosofia apostou nas utopias revolucionárias: anarquismo, socialismo, comunismo -, que criariam, graças à ação política consciente dos explorados e oprimidos, uma sociedade nova, justa e feliz.
- século XX: com o surgimento das sociedades totalitárias – fascismo, nazismo e stalinismo – e com o aumento do poder das sociedades autoritárias ou ditatoriais, a filosofia também passou a desconfiar do otimismo revolucionário e das utopias e a indagar se os seres humanos, os explorados e dominados serão capazes de criar e manter uma sociedade nova, justa e feliz.
e) Cultura
- século XIX: a filosofia descobre a cultura como o modo próprio e específico da existência dos seres humanos. Os animais são seres naturais e os seres humanos, seres culturais. A Natureza é governada por leis necessárias de causa e efeito; a cultura é o exercício da liberdade.
- cultura: é a criação coletiva de idéias, símbolos, valores pelos quais um sociedade define para si mesma o bom e o mal, o belo e o feio, o justo e o injusto, o verdadeiro e o falso, o puro e o impuro, o possível e o impossível, o sagrado e o profano, o espaço e o tempo. A cultura se manifesta como vida social, como criação das obras de pensamento e de arte, como vida religiosa e vida política.
- século XX: a filosofia afirma que a História e descontínua, também afirma que não há a cultura, mas culturas diferentes, e que a pluralidade de culturas e as diferenças entre elas não se devem à nação, pois a ideia de nação é uma criação cultural e não passa das diferentes culturas.
- cultura: cada uma inventa seu modo de relacionar-se com o tempo, de criar sua linguagem, de elaborar seus mitos e suas crenças, de organizar o trabalho e as relações sociais, de criar as obras de pensamento e de arte. Desse modo, o presente está voltado para o futuro, e não para o conservadorismo do passado.
f) o fim da filosofia
- século XIX: o otimismo positivista ou cientificista levou a filosofia a supor que, no futuro, só haveria ciências, e que todos os conhecimentos e todas as explicações seriam dados por ela. Assim, a filosofia poderia desaparecer, não tendo motivo para existir.
- século XX: a filosofia passou a mostrar que as ciências não possuem princípios totalmente certos, seguros e rigorosos para as investigações, que os resultados podem ser duvidosos e precários, e que, frequentemente, uma ciência desconhece até onde pode ir e quando está entrando no campo de investigação de uma outra. Com isso a filosofia voltou a afirmar seu papel de compreensão e interpretação crítica das ciências, discutindo a validade de seus princípios, procedimentos de pesquisa, resultados, de suas formas de exposição dos dados e das conclusões.
g) Ideologia e Inconsciente
- século XIX: o otimismo filosófico levava a filosofia a afirmar que, enfim, os seres humanos haviam alcançado a maioridade racional, e que a razão se desenvolvia plenamente para que o conhecimento completo da realidade e das ações humanas fosse atingido.
- século XX: Marx passou a duvidar desse otimismo racionalista, descobriu que temos a ilusão de estarmos pensando e agindo com nossa própria cabeça e por nossa própria vontade, racional e livremente, de acordo com nosso entendimento e nossa liberdade, porque desconhecemos um poder invisível que nos força a pensar como pensamos e agir como agimos. A esse poder – que é social – ele deu o nome de ideologia.
- século XX: Freud, por sua vez, mostrou que os serrs humanos tem a ilusão de que tudo quanto pensam, fazem, sentem e desejam, tudo quanto dizem ou calam estaria sob o controle de nossa consciência porque desconhecemos a existência de uma força invisível, de um poder – que é psíquico e social – que atua sobre nossa consciência sem que ela o saiba. A esse poder que domina e controla invisível e profundamente nossa vida consciente, ele deu o nome de inconsciente.
- diante dessas duas descobertas, a filosofia se viu forçada a reabrir a discussão sobre o que é e o que pode ser a razão, sobre o que é e o que pode a consciência reflexiva ou o sujeito do conhecimento, sobre o que são e o podem as aparências e as ilusões.
- ao mesmo tempo, a filosofia teve que reabrir as discussões éticas e morais: O homem é realmente livre ou é inteiramente condicionado pela situação psíquica e histórica? Como os seres humanos conquistam a liberdade em meio a todos os condicionamentos psíquicos, históricos, econômicos, culturais em que vivem?
h) Infinito (Deus) e finito (mundo e homem)
- século XIX: prosseguiu uma tradição filosófica que veio desde a Antiguidade e que foi muito alimentada pelo pensamento cristão. Nessa tradição, o mais importante sempre foi a ideia do infinito, isto é, da Natureza eterna (dos gregos), do Deus eterno (dos cristãos), do desenvolvimento pleno e total da História ou do tempo como totalização de todos os seus momentos ou suas etapas. Prevalecia a ideia de todo ou de totalidade, da qual os humanos fazem parte e na qual os humanos participam.
- século XX: tendeu a maior importância ao finito, isto é, ao que surge e desaparece, ao que tem fronteiras e limites. Esse interesse pelo finito aparece, por exemplo numa corrente filosófica (entre os anos 30 e 50) chamada existencialismo e que definiu o humano ou o homem como “um ser para a morte”, isto é, um ser que sabe que termina e que precisa encontrar em si mesmo o sentido de sua existência. Também a busca de uma ciência universal que conteria dentro de si todas as ciências particulares, interessa-se pela multiplicidade e pela diferença entre as ciências, pelos limites de cada uma delas e sobre tudo seus impasses e problemas insolúveis.
- principais filósofos:
- Niilismo: Friedrich Nietzsche.
- Historicismo: Ernst Cassirer, Wilhelm Dilthey, Friedrich Meinecke, Max Weber.
- Pragmatismo: William James, John Dewey, Benedetto Croce, Giovanni Gentile.
- Filosofia Espanhola: Miguel Unamuno, José Ortega y Gasset.
- Fenomenologia: Edmund Husserl, , Max Scheler, Nicolai Hartmann, Martins Heidegger,
- Existencialismo: Karl Jarpers, Hannah Arendt, Jean-Paul Sartre, Maurice Merleau-Ponty, Gabriel Marcel,
- Hermenêutica: Hans Georg Gadamer, Emilio Betti, Paul Ricoeur, Luís Pareysom, Gianni Vattimo.
- Filosofia da Linguagem: Alfred NorthWhitehead, Bertrand Russell, Ludwig Wittgenstein.
- Espiritualismo: Henri Bergson, Karl Barth, Karl Rahner,
- Personalismo: Emmanuel Mounier, Simone Weil
- Filosofia Hebraica: Martin Buber, Emmanuel Lévinas
- Neomarxismo: Lukásc, Korsch, Bloch, Garaudy
- Escola de Frankfurt: Theodor Wiesengrund Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Erich Froom.
- Comportamentalismo: Jean Piaget, Noam Chomsky
- Psicanálise: Sigmund Freud, Carl Gustav Jung
- Estruturalismo: Claude Lévi-Strauss, Michel Foucault, Jacques Lacan
- Filosofia da Ciência: Percy Willims Bridgman, Gaston Bachelard, Karl Popper, Thomas Kuhn.