FILOSOFIA ANTIGA

FILOSOFIA ANTIGA

terça-feira, 31 de maio de 2011

OS PRÉ-SOCRÁTICOS - 1A, 1B, 1C, 1D, 1E

 OS PRÉ-SOCRÁTICOS

            Os pré-socráticos ou filósofos da natureza, estão na primeira fase do pensamento grego, é chamada de Naturalista ou Cosmológica.

Phýsis = natureza, onde se acreditava ser possível encontrar o princípio de todas as coisas, isto é, aquilo que está em todos os seres existentes, que é comum a tudo.

Arché = princípio constitutivo da natureza, que é a chave para conhecer e explicar tudo o que existe no universo.

Tipos de Arché

QUANTIDADE
QUALIDADE
água
úmida
ar
frio
fogo
quente
terra
seco
           
            Os pré-socráticos deram o passo inicial na tentativa de uma forma mais ordenada, mais lógica de pensar, que posteriormente daria origem às ciências naturais: física, biologia, astronomia, química, matemática.

            Os escritos desses primeiros filósofos se perderam quase totalmente. Sobraram apenas alguns fragmentos – trechos, pedaços de frases – que chegaram até nós por filósofos posteriores, como Aristóteles, que comentaram o pensamento pré-socrático.

A) ESCOLA JÔNICA

- filósofos que eram da cidade de Mileto, na Jônia.

1) TALES DE MILETO

Vida: 623 – 546 a.C.
Filosofia: “tudo é água!”
Phýsis: Água ou Úmido
- água era como uma divindade, como se fosse a própria vida.
- a água cria: o céu (água gasosa), a terra (água sólida), o mar (água líquida) e todas as coisas (tudo é formado por água).
Personalidade: fundador da filosofia cosmológica. Por ter sido o primeiro pensador a procurar responder filosoficamente como o mundo surgiu e o que explica sua existência.

2) ANAXIMANDRO DE MILETO

Vida: 610 – 547 a.C.
Filosofia: “nem água, nem algum dos elementos, mas uma substância diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos”
Phýsis: Ápeiron (o ilimitado, infinito)
- áperion seria a massa geradora dos seres, contendo em si todas as qualidades contrárias (frio x quente, úmido x seco).
Como dele derivam as coisas: por separação dos contrários por uma espécie de injustiça.

3) ANAXÍMENES DE MILETO

Vida: 588-524 a.C.
Filosofia: “e assim como nossa alma, que é ar, nos mantém unidos, da mesma maneira o vento envolve todo o mundo.”
Phýsis: Ar ou Pneuma
- o ar é invisível, imponderável, determinado, quase inobservável, observável: o ar é a própria vida, a força vital, a divindade que “anima” o mundo, aquilo que dá testemunho à respiração.
Como dele derivam as coisas: por condensação resfria-se e torna água e, depois, terra; e rarefação  (distender) dilatando-se, esquenta e torná-se fogo.

PROCESSO
QUANTIDADE DE AR
MOVIMENTO
GERA
RAREFAÇÃO
MUITO AR
DILATAÇÃO
VIDA
CONDENSAÇÃO
POUCO AR
CONTRAÇÃO
MORTE


B) ESCOLA MOBILISTA

- escola filosófica: mobilista (movimento) na Jônia

1) HERÁCLITO DE ÉFESO

Vida: 540 – 480 a.C.
Filosofia: “Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo. O ser não é mais que o vir-a-ser.” E “não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas águas se renovam a cada instante. Não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição”.
Phýsis: Fogo ou Pýr símbolo do Devir (vir-a-ser).
- devir (movimento): para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias: ordem/desordem, bem/mal, belo/feio, justo/injusto, quente/frio, alegria/tristeza.
- exalações de fogo:
* fogo ardente (claro): sol, luz, calor, vida, saúde, beleza, conhecimento.
* fogo apagado (escuro): noite, treva, frio, morte, doença, feiúra, ignorância.
- a luta (guerra) é a mãe, rainha e principio de todas as coisas. É pela luta das forças opostas que o mundo se modifica
Como dele derivam as coisas: por oposição nos particulares segundo harmonia no todo.

C) ESCOLA PITAGÓRICA

1) PITÁGORAS DE SAMOS

Vida: 570 – 490 a.C.
Filosofia: “Todas as coisas são números”
Phýsis: Números ou Arithmós
- representam a ordem e a harmonia
- a essência dos seres teria uma estrutura matemática da qual derivariam problemas como: finito e infinito, par e ímpar, unidade e multiplicidade, reta e curva, círculo e quadrado”.
- se tudo é número, tudo é “ordem” e o universo inteiro aparece como um kósmos (ordem) que deriva dos números.

Números perfeitos: ímpares que são masculinos e representados pelo quadrado, pois não deixam um campo vazio para a flecha que passa pelo meio e encontra limite.



3               5                     7            9           
*                * *              * * *             * * * *
→ *           → *               →*                →*                                     
*                * *              * * *             * * * *


*  *  *  *
*  *  *  *
*  *  *  *
*  *  *  *           

Números imperfeitos
: pares que são femininos e representados pelo retângulo, pois deixam um campo vazio para a flecha que passa pelo meio e não encontra um limite, o que mostra seu defeito (ilimitado).

2                4                6                   8            

*              * *             * * *            * * * *
→            →               →                →                                         
*              * *             * * *            * * * *

*    *    *    *    *
*    *    *    *    *
*    *    *    *    *
*    *    *    *    *

O “um” dos pitagóricos não é par nem ímpar: é um PARÍMPAR, pois dele procedem todos os números, tanto os pares quanto os impares.

O zero, era desconhecido para os Pitagóricos.

O número perfeito foi identificado com o dez, que visualmente era representado por um triângulo perfeito, formado pelos primeiros quatro números e tendo o numero quatro em cada lado (TETRAKTYS)

                                                  *
                                               *     *
                                           *      *      *
                                       *       *      *     *

Como dele derivam as coisas: segundo relações harmônico-matemáticas no todo e nas partes.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

HELENISMO - 2A, 2B, 2C, 2D, 2E, 2F, 2G, 2H, 3A, 3B, 3C, 3D, 3E.

5. HELENISMO

- o termo helenismo é derivado da ora do historiador alemão J.G. Droysen, HELLENISMUS (1836-43), e designa a influência da cultura grega em toda a região do Mediterrâneo oriental e do Oriente Próximo desde as conquistas de Alexandre (332 a.C.) – do estabelecimento de seu império e dos reinos criados após a sua morte (323 a.C.) por seus sucessores (sobretudo Ptolomeu no Egito e Selêuco na Síria e Mesopotâmia) – até a conquista romana no Egito em 30 a.C., que passa a marcar a influência de Roma nesta mesma região.
- O império de Alexandre significou a primeira grande tentativa de criação efetiva de uma hegemonia não só militar, mas cultural e lingüística. A língua grega se torna a “língua comum” (koiné) de toda a região conquistada por Alexandre, assim como a moeda grega passa a ser aceita em todo o império na primeira experiência importante de unificação econômica.

5.1. Da cultura helênica á cultura helenística

- a cultura helênica, com sua difusão entre os vários povos e raças, torna-se “helenística”. Essa difusão comportou, faltamente, perda de profundidade e pureza. Entretanto em contato com tradições e crenças diversas, a cultura helênica devia fatalmente assimilar alguns de seus elementos.
- os novos centruos de cultura, tais como Pérgamo, Rodes e sobretudo Alexandria, com a fundação da Biblioteca e do Museu, graças aos Ptolomeus, acabaram por ofuscar a própria Atenas.  Se Atenas conseguiu permanecer a capital do pensamento filosófico, Alexandria tornou-se inicialmente o centro no qual floresceram as ciências particulares e, quase no fim da época helenística, e principalmente na época imperial, também o centro da filosofia.
- compreende-se que o pensamento helenístico tenha se concentrado sobretudo nos problemas morais, que se impõe a todos os homens. E ao propor os grandes problemas da vida e algumas soluções para os mesmos, os filósofos dessa época criaram algo de verdadeiramente grandioso e excepcional.
- o cinismo, o epicurismo, o estoicismo e o ceticismo propuseram, modelos de vida nos quais os homens continuaram a se inspirar ainda durante outro meio milênio e que, ademais, tornaram-se paradigmas espirituais.

5.2. CINISMO

- fundador do ponto de vista da doutrina: Antístenes.
- mas o principal expoente e símbolo deste movimento foi: Diógenes de Sinope; pois levou às últimas conseqüências as instâncias levantadas por Antístenes, mas também soube torná-las substância de vida com rigor e coerência tão radicais que, por séculos inteiros, foram considerados verdadeiramente extraordinários.
- programa do nosso filósofo se expressa na célebre frase: “PROCURO O HOMEM”, que, como se relata, ele pronunciava caminhando com a lanterna acesa em pleno dia, nos lugares mais apinhados.
- Com evidente e provocante ironia, queria significar exatamente o seguinte: busco o homem que vive segundo sua mais autêntica essência; busco o homem que, para além de toda exterioridade, de todas as convenções da sociedade e do próprio capricho da sorte e da fortuna, sabe reencontrar sua genuína natureza, sabe viver conforme essa natureza e, assim, sabe ser feliz.
- é nesse contexto que se incluem suas afirmações sobre a inutilidade das matemáticas, da física, da astronomia, da música e o absurdo das construções metafísicas, substituindo a mediação conceitual pelo comportamento, o exemplo e ação.
- com Diógenes, de fato, o Cinismo torna-se a mais “anticultural” das filosofias que a Grécia e o Ocidente conheceram.

5.2.1. Modo de viver do Cínico

- Diógenes: “viu, uma vez, um rato correr daqui para lá, sem objetivo (não buscava lugar para dormir, nem tinha medo das trevas, nem desejava algo daquilo que comumente se considera desejável) e assim cogitou um remédio para suas dificuldades”.
- Logo, é um animal que dita ao Cínico o modo de viver: um viver sem meta (sem metas que a sociedade propõe como necessárias), sem necessidade de casa nem de moradia fixa e sem o conforto das comodidades oferecidas pelo progresso.
- eis como Diógenes, segundo testemunhos antigos, pôs em prática essas teorias: “ Diógenes foi o primeiro a dobrar o manto por necessidade também de dormir dentro dele, e levava um bornal no qual recolhia comidas; servia-se indiferentemente de qualquer lugar para todos os usos, para fazer refeições, para dormir ou para conversar. E costumava dizer que também os atenienses haviam providenciado para ele um lugar onde pudesse morar: indicava o pórtico de Zeus e a sala das procissões. Uma vez, ordenou a alguém que lhe providenciasse uma casinha; e como este demorava, Diógenes escolheu como habitação um barril que estava na rua, como ele próprio o atesta”. Também a representação de Diógenes no barril tornou-se um símbolo do pouco que é suficente para viver.

5.2.2. Liberdade de Palavra e de Vida, Exercício e Fadiga

- esse modo de viver, para Diógenes, coincide com a LIBERDADE: quanto mais se eliminam as necessidades supérfluas, mas se é livre.
- PARRHESÍA: liberdade de palavra, tocaram os limites da desfaçatez (sem vergonha, cínico)  e da arrogância, até mesmo em relação aos poderosos.
- ANÁIDEIA: liberdade de ação, até a licenciosidade (contrário aos bons costumes, devasso, depravado). Com efeito, Diógenes fundamentalmente tenha pretendido demonstrar a “não naturalidade” dos costumes gregos, nem sempre ele manteve a medida, caindo em excessos que bem explicam a carga de significado negativo com que o termo “cínico” passou à história e que ainda hoje mantém.
- Diógenes resumia o método que pode conduzir à liberdade e à virtude nos dois conceitos essenciais de EXERCÍCIO e FADIGA, que consistiam numa prática de vida capaz de temperar o físico e o espírito nas fadigas impostas pela natureza e, ao mesmo tempo, capaz de habituar o homem ao domínio dos prazeres e até a desprezá-los.

5.2.3. Desprezo do Prazer e Autarquia

- Desprezo do prazer: é fundamental na vida do cínico, já que o prazer não só debilita o físico e o espírito, mas põe em perigo a liberdade, tornando o homem escravo, de vários modos, das coisas e dos homens aos quais os prazeres estão ligados.
- Autarquia: bastar-se a si mesmo, a apatia e indiferença diante de tudo eram pontos de chegada da vida cínica.

5.2.4. O Cínico e o Cão

- talvez Diógenes tenha sido o primeiro a adotar o termo “cão” para se autodefinir, vangloriando-se desse epíteto, que os outros lhe atribuíram por desprezo, e explicando que se chamava “cão” pelo seguinte motivo: “Faço festa aos que me dão alguma coisa, lato contra os que nada me dão e mordo os celerados (cruel, mal, perverso)”.
- Diógenes foi porta-voz de muitas instâncias da era helenística, mesmo que de modo unilateral. Os próprios contemporâneos já o entendiam assim, erguendo-lhe uma coluna encimada por um cão de mármore de Paros, com a inscrição: “Até o bronze cede ao tempo e envelhece, mas tua glória, Diógenes, permanecerá intacta eternamente porque só tu ensinaste aos mortais a doutrina de que a vida basta-se a si mesma, e mostra-te o caminho mais fácil para viver.”

5.3. EPICURISMO E A FUNDAÇÃO DO JARDIM

- Epicuro  filho de Neoclés e de Queréstrata, teria nascido em Atenas, em 342 ou 341 a.C., mudando-se com a família para ilha de Samos onde passou a infância e a juventude.
- dos 14 aos 18 anos, foi enviado por seu pai para a cidade de Teos para o aprendizado de matemática e f´siica, tendo recebido ensinamentos do platônico Pamfílio.
- ao completar 18 anos, dirigiu-se para Atenas, para cumprir serviço mlitar. Teve aulas na Academia com Xenócrates e no Liceu com Teofrastro durante dois anos.
- aos 30 anos, com seu pensamento já constituído, fixou-se em Mitilene, na ilha de lesbos, e fundou sua primeira escola de filosofia. Ali permaneceu apenas um anos, deslocando-se, em 310 a.C. para Lâmpsaco, onde fundou uma escola e conseguiu muitos discípulos.
- aos 35 anos conseguiu recursos para comprar uma casa e um jardim em Atenas, onde, em 306 a.C., na companhia de vários discípulos, se instalou definitivamente até sua morte em 270 a.C, aos 72 anos de idade.
- sua escola em Atenas constitui verdadeiro e preciso ato de desafio de Epicuro em relação à Academia e o Liceu, o início de uma revolução espiritual. O próprio lugar escolhido por Epicuro para a escola é expressão da novidade revolucionária do seu pensamento: não uma palestra, símbolo da Grécia Clássica, mas um prédio com jardim (que era mais um horto), nos subúrbios de Atenas.
- O Jardim estava longe do tumulto da vida pública citadina e próximo do silêncio do campo, aquele silêncio e aquele campo que não diziam nada para as filosofia clássicas, mas se revestiam de grande importância para a nova sensibilidade helenística.
- por isso, o nome Jardim (grego se diz Képos) passou a indicar a Escola, e as expressões “os do jardim” e “filósofos do Jardim” tornaram-se sinônimos dos seguidores de Epicuro.
- A palavra que vinha do Jardim pode ser resumida em poucas proposições:
a) a realidade é perfeitamente penetrável e cognoscível pela inteligência do homem;
b) nas dimensões do real existe espaço para a felicidade do homem;
c) a felicidade é falta de dor e de perturbação;
d) para atingir essa felicidade e essa paz, o homem só precisa de si mesmo;
e) não lhe servem, portanto, a Cidade, as instituições, a nobreza, as riquezas, todas as coisas e nem mesmo os deuses: o homem é perfeitamente “autárquico” (independente, autosufiente).
- é claro que, no contexto desta mensagem, todos os homens são iguais, porque todos aspiram à paz de espírito, todos tem direito a ela  e todos podem atingi-la, se quiserem. Por conseguinte, o Jardim quer abrir suas portas para todos: nobres e não-nobres, livres e não-livres, homens e mulheres, e até para prostitutas em busca de redenção.

5.3.1. A LÓGICA ou o CÂNON EPICURISTA

a) Sensação na origem do conhecimento

1º) a sensação é uma “afecção” (paixão) e, portanto, passiva, como tal, é produzida por alguma coisa da qual é o efeito correspondente e adequado.
2º) a sensação é objetiva e verdadeira, porque é produzida e garantida pela própria estrutura atômica da realidade. De todas as coisas emanam complexos de átomos, que constituem “imagens” ou “simulacros”, e as sensações são exatamente produzidas pelas penetração, em nós, de tais simulacros (aparência sem realidade).
3º) a sensação é a-racional e, portanto, incapaz de retirar ou acrescentar a si mesma alguma coisa e, por isso, é objetiva.

b) As prolepses como representações mentais = Pré-noções

- como segundo critério de verdade, Epicuro punhas as prolepses, “antecipações” ou “pré-noções” que são as representações mentais das coisas, as quais não são senão “memória daquilo que frequentemente mostrou-se a partir do exterior”.
- portanto, a experiência deixa na mente uma “impressão” das sensações passadas e essa “impressão” permite-nos conhecer antecipadamente as características das coisas correspondentes, mesmo sem tê-las atualmente presentes diante de nós.
- estas prolepses assumem, pois, a função dos conceitos, mas sua validade depende direta e exclusivamente da ligação que tem com a sensação.

c) Os sentimentos de dor e de prazer

- como terceiro critério de verdade, Epicuro pôs os sentimentos de “prazer” e de “dor”.
- as afecções do prazer e da dor são objetivas pelas mesmas razões que o são todas as sensações.
- têm, todavia, importância inteiramente particular porque, além de critério para distinguir o verdadeiro do falso, o ser do não-ser, como todas as outras sensações, constituem o critério axiológico para distinguir o bem do mal, constituindo assim o critério de escolha ou de não escolha, ou seja, a regra de nosso agir.

d) Evidência e Opinião

- evidencia: é só aquilo que é imediato, como as sensações, as atnecipações e os sentimentos. Mas uma vez que o raciocínio não pode parar no imediato, sendo operação de mediação, assim nasce a opinião e, com ela, a possibilidade de erro.
- portanto, enquanto as sensações, as prolepses e os sentimentos são sempre verdadeiros e não tem necessidade de qualquer critério extrínseco de verificação e convalidação, as opiniões poderão ser ora verdadeiras, ora falsas.
- por isso, Epicuro procurou determinar os critérios em base aos quais podemos distinguir as opiniões verdadeiras das falsas.
- são opiniões verdadeiras: a) “recebem testemunho comprobatório”, isto é, confirmação por parte da experiência e da evidência; b) “não recebem testemunho contrário”, ou seja, não recebem desmentido da experiência e da evidência.
- são opiniões falsas: “recebem testemunho contrário”, ou seja, são desmentidas pela experiência e pela evidência; b) “não recebem testemunho comprobatório”, ou seja, não recebem confirmação da experiência e da evidência.

5.3.2. A ÉTICA EPICURISTA

- se a essência do homem é matéria, também necessariamente será material o seu bem específico, aquele bem que, concretizado e realizado, torna o homem feliz.
- e este bem é a natureza: o bem é o prazer.

5.3.2.1. Hedonismo Epicurista

- Hedonismo: é a doutrina que encontra no prazer o sumo bem e naca do prazer o fim da vida do homem. Doutrina hedonista é a dos Cirenaicos, que, todavia, embora pregando a busca do prazer do momento e até a superioridade dos prazeres do corpo sobre os da alma, condenam os excessos e consideram indispensável manter um domínio de si ao experimentar os prazeres.

- Hedonismo Epicurista: julga de modo positivo somente os prazeres naturais e necessários, experimentados com grande medida. O prazer supremo, para Epicuro, consiste na ausência de dor (aponía) tanto física como espiritual). Na linguagem comum, geralmente erramos quando chamamos de “epicurista” o hedonista desenfreado: este corresponde exatamente ao contrário do que Epicuro histórico prega.

a) APONÍA: ausência de dor no corpo. É o sumo prazer, que é ausência total de dor.

b) O PRAZER CATASTEMÁTICO: prazer em repouso, como ausência de qualquer forma de dor, tem caráter de estabilidade e não pode sofrer nem incremento nem diminuição, e, portanto, jamais nos deixa insatisfeitos.

c) ATARAXÍA: ausência de perturbações na alma.

- REGRA DA VIDA MORAL: não é o prazer como tal, mas a razão que julga e discrimina, ou seja, a sabedoria prática que, entre os prazeres, escolhes aqueles que não comportam em si dor e perturbação, descartando aqueles que dão gozo momentâneo, mas trazem consigo dores e perturbações conseqüentes.

5.3.2.2. Os diversos Tipos de Prazeres

- para garantir o alcance da aponía e da ataraxía, Epicuro distinguiu:

a) Prazeres Naturais e Necessários

- ligados à conservação da vida do indivíduo: estes seriam os únicos verdadeiramente válidos, porque subtraem a dor do corpo, como por exemplo, comer se tem fome, beber quando se tem sede, repousar quando se está cansado.
- são os únicos que devem ser sempre e habitualmente satisfeitos, porque tem por natureza um preciso limite, que consiste na eliminação da dor: obtida a eliminação da dor, o prazer não cresce depois.
- Ao mesmo tempo, exclui deste grupo o desejo e o prazer do amor, porque são fonte de perturbação.

b) Prazeres Naturais mas Não Necessários

- põe todos os desejos e prazeres que constituem as variações supérfluas dos prazeres naturais: comer bem, beber bebidas refinadas, vestir-se com apuro.
- já não tem mais aquele limite, porque não subtraem a dor do corpo, mas variam somente no grau do prazer e podem provocar notável dano.

c) Prazeres  Não Naturais e Não Necessários

- prazeres “vãos”, isto é, nascidos das “vãs opiniões dos homens”, que são todos os prazeres ligados ao desejo de riqueza, poder, honras e semelhantes.
- não tiram a dor corpórea e, por acréscimo, produzem sempre perturbação na alma.

CONCLUSÃO: refreemos pois nossos desejos, reduzamo-los ao primeiro núcleo essencial e teremos copiosa riqueza e felicidade, porque, para nos propiciar aqueles prazeres, bastamo-nos a nós mesmos, e neste bastar-se-a-si-mesmo (autarquia) é que está a maior riqueza e felicidade.

5.3.2.3. O Mal e a Morte

a) O mal físico

- o que devemos fazer quando somos atingidos pelos males físicos não desejados?
- Se é leve, o mal físico é suportável, nunca sendo tal que ofusque a alegria do espírito.
- Se agudo, passa logo.
- Se agudíssimo, conduz logo à morte, a qual, em todo caso, como veremos, é um estado de absoluta insensibilidade.

b) O mal da alma

- A respeito destes não é o casão de nos alongarmos, porque são apenas produtos de opiniões falazes e dos erros da mente. E toda a filosofia de Epicuro se apresenta como o mais eficaz remédio e o mais seguro antídoto contra eles.

b) A morte

- a morte é um mal só para quem nutre falsas opiniões sobre ela. Como o homem é um “composto alma” em um “composto corpo”, a morte não é senão a dissolução desses compostos, na qual os átomos se espraiam por toda parte, a consciência e a sensibilidade cessam totalmente e, assim, só restam do homem ruínas que se dispersam, isto é, nada.
- A morte, portanto, não é pavorosa em si mesma, porque, com sua vinda, não sentimos mais nada; nem pelo seu “depois”, exatamente porque não resta nada de nós, dissolvendo-se totalmente nossa alma, assim com nosso corpo; nem, enfim, a morte tolhe nada da vida que tenhamos vivido, porque a eternidade não é necessária para a absoluta perfeição do prazer.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

ARISTÓTELES - 2A, 2B, 2C, 2D, 2E, 2F, 2G, 2H, 3A, 3B, 3C, 3D, 3E.

3. A PSICOLOGIA

- a psicologia em Aristóteles é considerada parte integrante da física, que estuda os seres físicos enquanto animados. E os seres animados são tais por causa de um principio de vida, ou seja, de uma alma.
- Alma:  é a forma substancial, a enteléquia (isto é, o ato, a perfeição) de um corpo. Mas, os seres vivos não tem todos as mesmas funções, e, portanto, terão princípios vitais (ou seja, almas) diferentes, conforme funções específicas que lhes são próprias:

3.1. A alma e suas atividades:

- os vegetais, que podem apenas reproduzir-se e crescer, terão alma adequada a estas faculdades, ou seja, alma vegetativa.
- os animais, que tem também percepção do mundo e capacidade de movimento, serão igualmente dotados de alma sensitiva.
- os homens que tem também a faculdade de raciocinar serão providos, além de alma vegetativa e de alma sensitiva, igualmente de alma racional.

3.2. Funções da alma

a)  Alma Vegetativa: é o principio mais elementar de vida, ou seja, o princípio que governa e regula as atividades biológicas (principio da nutrição) e preside à reprodução.

b) Alma Sensitiva: função capital é a sensação, assimilar as formas sensíveis.

- Sensação: é em potência aquilo que o sensível já é em ato. Da sensação derivam a fantasia, que é produção de imagens, a memória, que é a sua conservação, e, por fim, a experiência, que nasce da acumulação de fatos mnemônicos. Da sensação deviram o apetite e o movimento.
- Apetite: nasce da conseqüência da sensação que é de prazer ou dor.
- Movimento: quando o desejo é posto em movimento pelo objeto desejado.

c) Alma Racional ou Intelectiva: é receber ou assimilar as formas inteligíveis.
- a inteligência é capacidade e potência de conhecer as formas puras; por seu turno, as formas estão contidas em potência nas sensações e nas imagens da fantasia; é necessário, portanto, algo que traduza em ato essa dupla potencialidade, de modo que o pensamento se concretize captando a forma em ato, e a forma contida na imagem torne-se conceito captado e possuído em ato.
- intelecto passivo: é o intelecto do homem que tem capacidade e potência de conhecer as formas inteligíveis que estão em potência nas coisas.
- intelecto ativo: põe em ato as formas inteligíveis que estão em potência nas coisas e as torna compreensíveis. É semelhante à luz que ativa a vista e reaviva as cores. É imortal.

4. AS CIÊNCIAS PRÁTICAS

4.1. ÉTICA

- Todas as ações humanas tendem a um fim, isto é, à realização de um bem específico; mas cada fim particular e cada bem específico estão em relação com um fim último e com um bem supremo, que é a felicidade.

a) Felicidade

- para a maior parte dos homens é o prazer ou a riqueza;
- para alguns é a honra e o sucesso;
- Mas estes presumidos “bens” tem todos um defeito, isto é, põem o homem em dependência daquilo de que dependem (os bens materiais, o público, etc.),e, portanto, a felicidade ligada a tais coisas é totalmente precária e aleatória.
- o homem, enquanto ser racional, tem como fim a realização desta sua natureza específica, e exatamente na realização desta natureza de ser racional consiste sua felicidade.

b) As virtudes éticas: ligadas à vida prática

- no homem tem notável importância, além da razão, os apetites e os instintos ligados à alma sensitiva.
- tais apetites e instintos se opõem em si à razão, mas podem ser regulados e dominados pela própria razão.
- a submissão da alma sensitiva à razão ocorre por meio das virtudes éticas, as quais não são mais que os modos pelos quais a razão instaura sua soberania sobre os instintos.
- as virtudes éticas se traduzem em busca da justa medida entre o excesso e a carência nos impulsos e nas paixões.
- esta busca e aquisição da justa medida por meio da repetição se traduz em um hábito, modo de ser, estado e, portanto, constitui a personalidade moral do indivíduo.
- Aristóteles teoriza deste modo a máxima dos gregos: “nada em demasia”.
Conclusão: permitem a vitória da razão sobre os impulso, buscando a justa medida entre dois excessos, manifestando-se como hábitos e fixam o fim do ato moral.

c) Virtudes dianéticas: ligadas à verdades imutáveis e para o Sumo Bem

- Phrónesis (Sabedoria) = consiste em dirigir bem a vida do homem, ou seja, em deliberar de modo correto acerta daquilo que é bem ou mal para o homem. Aplicação na vida concreta.

- Sophia (Sapiência) = é o conhecimento daquelas realidades que estão acima do homem, ou seja, é a ciência teorética, e, de modo especial, a metafísica. Constitui a perfeição da atividade contemplativa, o homem alcança felicidade máxima, quase uma tangência com o divino. Somente o homem pode ser feliz porque ele é o único que pode contemplar, a Deus que é Mente suprema, Pensamento de pensamento.

d) Psicologia do ato moral

- deliberação: é o encontro dos meios que tornam possível a atuação de determinados fins. Desejo de alcançar determinados fins.
- escolha: é a decisão a tomar sobre os meios, ou seja, sobre quais meios se devem usar e sobre a sua colocação em ato. Diz respeito aos meios para se alcançar um bem.
- volição: é a escolha dos próprios fins, da qual depende propriamente a bondade ou a maldade do homem, conforme ele escolha os verdadeiros bens ou os bens aparentes e falazes.