FILOSOFIA ANTIGA

FILOSOFIA ANTIGA

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

4º BIMESTRE - 1º A,B,C,D,E,F,G,H,I,J.

1. OS SOFISTAS

1.1. O Termo Sofista

- termo sofista: sábio, especialista do saber.
- acepção da palavra em si mesma é positiva, tornou-se negativa sobretudo pela posição de Platão e Aristóteles, sendo desvalorizados e considerado um momento de grave decadência do pensamento grego.
- somente no século XX foi possível uma revisão sistemática desses juízos e, uma reavaliação histórica dos sofistas, cuja conclusão constitui um elo essencial na historia do pensamento antigo.

1.2. Identidade

- não eram filósofos
- eram professores de ARETÉ (virtude), de DÓXA (opinião)
- eles tinham um dom, um saber prático, que ele escolhe e apresenta de modo atraente
- formação: conhecimento da história e na explicação metódica sobre o processo de humanização do homem por meio dos costumes. Tudo é por convenção, ou seja, tudo pode ser ensinado.
- ensinam: arte de argumentar e persuadir, decisiva para quem exerce a cidadania numa democracia direta, em que as discussões e decisões são feitas em público e nas quais vence quem melhor souber persuadir os demais, sendo hábil, jeitoso, astuto na argumentação em favor de sua opinião e contra a do adversário.
- não são membros de uma escola filosófica, pois eram individualistas para admitir um mestre fundador de quem seriam discípulos.
- para eles todo conhecimento é aprendizagem que depende das circunstâncias, do professor e do aprendiz, não se poderia transformar a sofística num corpo doutrinário transmissível de geração em geração.
- os sofistas possuem em comum: argumentação, profissionalismo, convencionalismo e ceticismo(não acreditavam na pretensão da filosofia de conhecer a phýsis)

1.3. Método:

a) RETÓRICA: arte de persuadir
b) DIALÉTICA: arte de discutir
- características do método:
* metáfora: linguagem poderosa
* poesias: falar com rítmo
* atores: falar com graça
* políticos: falar com elegância
* música: falar as palavras com ritmo para um discurso comovente
* dança: para ensinar gesticulação e postura corporal
- objetivo: falar em público, memorização, postura e dicção.

1.4. Críticas
- Os socráticos eram inimigos dos sofistas
SOCRÁTICOS
SOFISTAS
alethéia (verdade)
 dóxa (opinião)
 falavam para filósofos
falavam a quem lhes pagassem
sabedoria é inata/natural        
educação ensinada/pedagogia
 partido: aristocracia
partido: democracia
crítica aos sofistas: mentirosos
professores de virtude
demagogos, charlatães


1.5. Fases do Pensamento Sofista:

1ª FASE – CRIADORES

a) PROTÁGORAS DE ABDERA

- o individuo é “medida de todas as coisas” e, portanto, também do bem e do mal, do verdadeiro e do falso.
- mas está vinculado pelo critério do útil
- Esta é a primeira forma de relativismo
- Relativismo: doutrina segundo a qual a idéia de bem e de mal é variável conforme o tempo e a sociedade
- a virtude para o homem: é a força da razão com  a qual pode-se tornar forte o argumento mais fraco (antilogia) e buscar o útil da cidade.

b) GÓRGIAS DE LEONTINI

- não existem bem e mal, verdadeiro e falso porque nada existe e, mesmo se existisse, não seria cognoscível e, mesmo que fosse cognoscível, não seria comunicável.
- Esta é a primeira forma de niilismo
Niilismo: é a redução ao nada; aniquilamento; não-existência. Ponto de vista que considera que as crenças e os valores tradicionais são infundados e que não há qualquer sentido ou utilidade na existência
- a virtude para o homem: é a retórica, ou seja, a capacidade de usar a palavra e o discurso e de desfrutar a capacidade de sugestão e de persuasão com fins próprios.

2ª FASE – PROPAGADORES 

a) PRÓDICO DE CÉOS

- interpreta em chave utilitarista a moral e particularmente o conceito de bem.
- a virtude para o homem: é o conhecimento da arte da sinonímia (sinônimos), que permite encontrar os sinônimos para tornar os discursos mais convincentes.

b) HÍPIAS E ANTIFONTE

- verdade e bem é aquilo que está conforme à lei de natureza.
- opinião é aquilo que está conforme à lei positiva
- enquanto a verdade oferece firme referência ética e leva ao igualitarismo, a opinião leva às discriminações entre os homens.
- Nascem os conceitos de lei de natureza e lei positiva.
- a virtude para o homem: viver segundo a natureza
3ª FASE – EPÍGONES

- seguidores que imitam os primeiros, sem grande capacidade crítica e inventiva,
- deixam a retórica e a discussão para torna-se erística
- Erística: gosto da discussão pela simples discussão, invenção de argumentos pró e contra sem nenhuma finalidade.
- degeneração da sofística
- a virtude para o homem: a vontade do mais forte que se impõe sobre o mais fraco.

1.6. Conclusão

- a sofística criticou:
1) a moral: em sentido do relativismo, do niilismo e do utilitarismo,
2) o conhecimento: o logos não leva a uma verdade isenta de controvérsias.
3) a religião: dessacralização da religião
- mas não soube construir alternativa filosófica válida para substituir as criticadas.

2. SÓCRATES

2.1. Vida
- 470 – 399 a.C. em Atenas
- pais: Sofronisco (escultor) e Fenarete (parteira)
- esposa: Xantipa
- um sábio.
- tão feio que parece belo: olhos esbugalhados, baixinho, maltrapilho, cabelos longos e embaraçados, barba longa.
- próximo do deus Apolo e habitado por um demônio.
- preocupado unicamente com o Bem e com o Justo, preferindo a morte a qualquer outro mal do qual pudesse ser responsável.
- ele era o mais sábio dos homens pois fazia profissão de nada saber “Sei, que nada sei!”, defendendo a verdade.
- O daímon: voz interior que conferiu a Sócrates uma visão que o guiava em todas as ações da vida; somente essa visão se colocava perante ele, como uma luz em combate onde não se vida nada, frequentemente o espírito falava com ele, governando e inspirando divinamente suas intenções.
- despreza a opinião, que a considera contrária à verdade, a toma por ignorância, falsidade e incompetência.
- condenação de Sócrates: corrupção da juventude e ensinar falsos deuses. Processo montado pelo juiz Meleto.
- morreu defendendo suas idéias, “nunca deixarei de filosofar”, pois os juízes se dispunham a não condena-lo à morte, se abandonasse a filosofia, sendo então condenado a tomar um veneno CICUTA.
- considerado o Pai da Filosofia, dividindo a história da filosofia em antes e depois dele. Foi o primeiro a abordar o homem, ou seja, como ele conhece (epistemologia) e como ele se comporta (ética).

2.2. Apelidos

a) Sábio: sua ignorância é geral e não há nada que ele saiba; ao menos é o que ele quer aparentar. Mas a quantidade da sabedoria que ele transborda.

b) Raia marinha: pois ele paralisa imediatamente quem quer que se aproxime dele com sua sabedoria.

c) Parteiro das almas: Sua arte é a maiêutica que liberta os homens, suas almas; provando e discernindo, com todo rigor, se é aparência vã e mentirosa que faz nascer a reflexão do jovem, ou se é o fruto de vida e de verdade. Partejar os outros é um obrigação que o deus Apolo lhe impôs; porque procriar é poder que o deus lhe retirou.

2.3. A questão socrática
- não deixou escritos, mas confiou seu saber aos discípulos mediante o DIÁLOGO, na dimensão da pura ORALIDADE.
- daí a dificuldade de reconstruir sua doutrina, servindo-se de múltiplos testemunhos frequentemente divergentes entre si, porque cada uma das testemunhas colhia apenas alguns aspectos do ensinamento do mestre, aqueles que lhe interessavam.
- entre as fontes de Sócrates temos: Platão (idealizador do mestre), Aristófanes (crítico de Sócrates colocando-o ao ridículo), Xenofonte (banaliza os motivos filosóficos) e Aristóteles (torna rigoroso os motivos filosóficos)
- para conhecer o pensamento de Sócrates é, portanto, necessário levar em conta todos os testemunhos.

2.4. A filosofia socrática

a) Conhece-te a ti mesmo e “Sei que nada sei”

- indo consultar o oráculo de Delfos, Sócrates ouve a voz (interior) do daímon, que lhe transmite a mensagem de Apolo: “Sócrates é o homem mais sábio entre os homens”. Espantado, Sócrates procura os homens que julgava sábios (políticos e poetas), consulta-os para que lhe digam o que é a sabedoria. Descobre, porém, que a sabedoria deles era nula. Compreende, então, o que o daímon lhe diz: “agora já sabes por que és o mais sábio de todos os homens”. Sócrates compreende, enfim, que nenhum homem sabe verdadeiramente nada, mas o sábio é aquele que reconhece isso. O início da sabedoria é, pois, “sei que nada sei”.
- se assim é, a inscrição no pórtico do templo de Apolo – “conhece-te a ti mesmo” – significa que o conhecimento não é um estado (de sabedoria), mas um processo, uma busca, uma procura da verdade. Eis o motivo que leva Sócrates a praticar a filosofia como missão: a busca incessante da sabedoria e da verdade e o reconhecimento incessante de que, a cada conhecimento obtido, uma nova ignorância se abre diante de nós. Isso não significa que a verdade não exista, e sim que deve ser sempre procurada e que sempre será maior do que nós.

b) O homem é sua alma

- Alma = consciência, personalidade intelectual e moral, sobretudo razão e conhecimento.
- Corpo = instrumento da alma.
- Frase Socrática: Conhece-te a ti mesmo (auto-conhecimento) e Sei que nada sei (aprendizagem).

- Virtude da alma = aquilo que a torna perfeita é ciência e conhecimento; manifesta-se como:
1) autodomínio: domínio da razão sobre as paixões.
2) liberdade: libertação da parte racional (verdadeiro homem) em relação à parte passional. Corresponde à liberdade interior.
3) não-violência: a razão se impõe pela convicção e não pela força.


- Vício: ignorância, por isso:
1)  ninguém peca voluntariamente (pecado =  erro)
2) as diversas virtudes são recondutíveis à unidade (= ciência do bem e do mal)
3) ignorância do bem e do mal.

c) A cura da alma
- a alma se purifica no diálogo ou dialética por meio da:

1) IRONIA-REFUTAÇÃO: para purificar a alma do falso saber, por meio:
- da figura do não saber para induzir o interlocutor a expor o próprio saber (Sei que nada sei)
- do método disfarce de assumir as teses do adversário a fim de demonstrar sua falsidade
- da refutação para fazer o adversário cair em contradição e induzi-lo a deixar as falsas convicções

2) MAIÊUTICA: parto da ideia
- para fazer emergir, mediante perguntas e respostas a verdade que está em cada um de nós.

3) O MÉTODO SOCRÁTICO
- o método usado por Sócrates no seu ensinamento foi o do diálogo articulado em dois momentos: o irônico-refutatório e o maiêutico.
- além disso, seu método era montado sobre a figura do não-saber.
- com efeito, ele não recorria a discursos de parda e a longos monólogos, mas seguia com seus interlocutores um método de pergunta-resposta, apresentando-se como aquele que não sabe e pede para ser instruído, e, - pelo fato de efetivamente afirmar que todo homem, em relação a Deus, é não-sapiente -, muito frequentemente esta atitude era uma simulação irônica, para constranger o adversário a expor completamente suas teses.
- Sócrates representando o aluno, começava o diálogo com o interlocutor, apresentado na falsa parte do mestre, e constrangia este a definir de modo preciso os termos de seu discurso e a examinar minuciosamente  logicamente suas passagens.
- no mais das vezes, o resultado era que o interlocutor se confundia e caía em incuráveis contradições.
- e, de tal modo, atuava-se a refutação, e o interlocutor obrigava-se a reconhecer os próprios erros.
- neste ponto Sócrates punha em ação a fazer nascer do seu ensinamento e, sempre mediante perguntas e respostas, com seguia fazer nascer a verdade na alma do dialogante, quando esta dela estava grávida.
- notemos a expressão: “fazer nascer”; como em grego a arte de fazer nascer própria da obstetra se diz “maiêutica”, Sócrates caracterizou justamente com tal nome este momento conclusivo de seu método.

3) PLATÃO

3.1. Vida

- nome: Aristocles
- apelido: Platão (de ombros largos – plátos) ombrudérrimo.
- nasceu: 428 a.C. e morreu em 347 a.C. em Atenas
- pai: Aristo
- mãe: Perictona
- família pertencente à nobreza da cidade
- foi discípulo de Sócrates
- assistiu inconformado à sentença de morte do grande mestre
- apostava na razão filosófica como o caminho que conduziria o homem ao exercício da justiça e à prática da virtude
- herdou de Sócrates muito de suas preocupações morais
- grande parte de sua obra tem como tema a boa convivência dos homens em sociedade
- depois da morte de Sócrates, Platão desiludiu-se com a democracia e deixou Atenas.
- realizou diversas viagens pela Grécia, pelo Egito e pela Itália.
- entre 399 a.C. e 387 a.C., criou vários de seus famosos diálogos em que Sócrates aparece como personagem central, como "Críton", "Laques", "Lísias", "Górgias" e "Protágoras".
- a seguir, Platão alternou longas temporadas em Atenas com a realização de três grandes viagens à Sicília, onde realizou diversas tentativas de colocar em prática suas teorias políticas.
- em Atenas, Platão fundou, por volta de 386 a.C., a famosa Academia. Tratava-se de uma escola localizada a mais ou menos dois quilômetros de Atenas, ao longo da estrada dos túmulos dos homens ilustres, totalmente mergulhada num grande parque, recebeu o nome de Academia porque ficava ao lado do pequeno bosque dedicado ao herói Academo. Lecionou durante quarenta anos.
- principais discípulos: Xenócrates, Espeusipo (sobrinho que o sucedeu na Academia), Aristóteles, Heráclide do Ponto, Calipo, Erasto, Timolau, Lastênia e Axiotéia. A vida deles passava serena entre passios e amáveis conversas, num agradável cenário de frescas alamedas e riachos.
- morreu durante um banquete de núpcias e foi sepultado no pequeno bosque do herói Academo.
- parece que no decorrer da sua longa vida ninguém jamais o viu sorrir. 

3.2. Escritos

- Platão escreve em forma de DIÁLOGO e utiliza-se da MITOLOGIA GREGA tendo como personagem principal SÓCRATES.
- procurou reproduzir o espírito do diálogo socrático, cujas peculiaridades buscava imitar.
- diálogo socrático: gênero literário específico inventado por Platão onde reproduz o jogo de perguntas e respostas, com todos os meandros da dúvida, com as fugazes e imprevistas revelações que impulsionam  para a verdade sem, porém, revela-la, convidando a alma do ouvinte a realizar o seu encontro com ela.
- valoriza o mito pois para ele o mito é expressão de fé e de crença onde procura clarificação no logos, e o logos busca complementação no mito.

3.3. A Metafísica

a) PRIMEIRA NAVEGAÇÃO ‘sob o impulso dos ventos’:   
- filosofia naturalista da phýsis dos pré-socráticos.
-  é o mundo sensível ou da matéria (material, sensível, empírico, físico)
- navegação fora de rota pois não conseguiram explicar o sensível através do próprio sensível.
- o filósofo permanece prisioneiro dos sentidos e do sensível.

b) SEGUNDA NAVEGAÇÃO ‘sob o impulso dos remos’:  
- impulso das próprias forças, elaboração pessoal, próprio dos socráticos. 
- é o mundo inteligível ou da idéia (imaterial, supra-sensível, metaempíritco, suprafísico)
- encontra a nova rota que conduz à descoberta do supra-sensível, ou seja, o ser inteligível.
- o filósofo tenta a libertação radical dos sentidos e do sensível e um deslocamento decido para o plano do raciocínio puro e daquilo que é captável pelo puro intelecto e pela pura mente.

1) A Ideia

- Platão denominou essas causas de natureza não-física, essas realidades inteligíveis, principalmente com os termos IDEIA e EIDOS, que significam FORMA.
- IDEIA: são entidades, substância, verdadeiro ser, o ser por excelência, modelos, paradigmas, são as essências das coisas, aquilo que faz com que cada coisa seja o que é. São por-si e em-si pois se impõem ao sujeito de modo absoluto. São as causas de todas as coisas sensíveis. Não sofrem mudanças e são as razões últimas e supremas de todas as coisas sensíveis.
- o conjunto das IDEIAS passou para a história sob a denominação de HIPERURÂNIO, lugar acima do céu, acima do cosmo físico, indica um lugar que não é absolutamente um lugar, é a imagem do mundo a-espacial do inteligível.
- as idéias são descritas como dotadas de características tais que impossibilitam qualquer relação com um lugar físico.

2) Mundo da Idéia

- constituído por uma multiplicidade, porquanto existem idéias de todas as coisas.
- idéias de: valores estéticos (belo), valores morais (bom), realidades corpóreas, entes geométricos.
- sistema hierarquicamente organizado e ordenado, no qual as Idéias inferiores implicam as superiores.
- principal idéia: BEM que ocupa o topo do vértice, que é a medida suprema de todas as coisas do qual depende toda a realidade. É o fundamento que torna todas as idéias cognoscíveis e a mente capaz de conhecer e produz o ser e a substância.
- o Bem não é uma substância ou essência, mas firma-se acima da substância, transcendendo-a em dignidade de hierarquia e em poder.

3) A doutrina dos princípios primeiros e supremos: UNO (=BEM) e DÍADE indefinida

PRIMEIRO PRINCÍPIO:
- UNO ou BEM (limite) = princípio formal de unidade, definição, determinação, ser, verdade/cognoscibilidade (conhecimento), valor, medida exatíssima. O UNO está acima do ser.

- SEGUNDO PRINCÍPIO:
DÍADE ou DUALIDADE (ilimite) = princípio material (inteligível), de indeterminação, de multiplicidade. Está abaixo do ser.

- da colaboração desses dois princípios originários procede a totalidade das Idéias. Uno  e Díade interagem e formam todas as coisas.

4) O Mundo Material ou Cosmos Sensível

- o mundo físico deriva das idéias, que funcionam como princípio formal, e de um princípio material, sensível.
- CHORA (espacialidade): matéria ou receptáculo sensível.

CRIAÇÃO DO MUNDO:

- existe um DEMIURGO, que é um Deus-artífice, que pensa e quer e gerou o mundo por bondade e por amor ao bem.
- ele assume como modelo o mundo das Idéias, plasmou a CHORA, segundo este modelo, gerando dessa forma o mundo físico.
- existe um modelo (mundo da idéia é eterno) e existe a cópia (mundo da matéria é temporal) e existe um Artífice (a Inteligência que é eterna), que produziu a cópia servindo-se de um modelo.
- o mundo sensível ou da matéria construído pelo Artífice, nasceu, isto é, foi gerado.
- o Demiurgo, realizou a obra mais bela possível, pelo desejo de bem: o mal e o negativo que permanecem neste mundo devem-se à ESPACIALIDADE CAÓTICA (matéria sensível).
- o Demiurgo dotou o mundo, além de um corpo perfeito, também de uma alma e de inteligência perfeitas. Assim criou a alma do mundo (servindo-se de três princípios: a essência, o idêntico e o diverso), e na alma, o corpo do mundo.
- o mundo, portanto, é uma espécie de “Deus visível”; e “deuses visíveis” são as estrelas e os astros. E uma vez que esta obra do Demiurgo é perfeita, ela não se corrompe: o mundo nasceu, mas não perecerá.

5) O tempo e o espaço

- o mundo sensível está na dimensão do tempo que é a Imagem móvel do eterno, como uma espécie de desenvolvimento do É através do ERA e do SERÁ. Por isso, implica geração e movimento.
- o tempo, portanto, nasceu junto com o céu, ou seja, com a geração do mundo: o que significa que antes da geração do mundo não existia tempo.
- dessa forma, o mundo sensível tornou-se COSMO (ordem perfeita), que marca o triunfo do inteligível sobre a cega necessidade da matéria, por obra do Demiurgo.

3.4. O CONHECIMENTO

- o conhecimento é uma forma de recordação (anamnese), um emergir daquilo que já existe desde sempre no interior de nossa alma.

a) O MITO DE ER OU A REMINISCENCIA: conhecer é lembrar

- o pastor Er, da Panfilia, é conduzido pela deus até o Hades, o reino dos mortos.
-  ali, Er encontra as almas dos mortos serenamente contemplando as idéias.
- devendo reencarnar-se, as almas serão levadas para escolher a nova vida que terão na terra.
- são livres para escolher a nova vida terra que desejam viver. Após a escola, são conduzidas por uma planície onde correm as águas do rio Léthe (o esquecimento).
- as almas que escolheram uma vida de poder, riqueza, glória, fama ou uma vida de prazeres, bebem água em grande quantidade, o que as faz esquecer as idéias que contemplaram.
- as almas dos que escolhem a sabedoria quase não bebem das águas e por isso, na vida terrena, poderão lembrar-se das idéias que contemplaram e alcançar, nesta vida, o conhecimento verdadeiro.
- desejaram a verdade, serão atraídas por ela, sentirão amor pelo conhecimento, porque, vagamente, lembram-se de que já a viram e já a tiveram.
- não se esquecem dela e por isso, ela é A-LÉTHEIA, não esquecida (verdade).

Conclusão:
- conhecer é lembrar.
- conhecer é reativar um saber total que se encontra em estado latente na razão.
- procurar e aprender é reencontrar um saber já adquirido que está esquecido.
- buscar e aprender não é simplesmente um esforço de memória, mas um trabalho de investigação realizado com instrumentos adequados e guiado pelas exigências de certeza e fundamentação do que se conhece ou se aprende.

b) O MITO DA CAVERNA: conhecer é olhar

- vamos imaginar uma grande caverna e, dentro dela, uns homens acorrentados desde que eram meninos, de forma que lhes seja impossível olhara para a saída, e, aliás, forçados a manter o tempo todo os olhos fixos na parede do fundo.
- por trás destes infelizes, logo fora da caverna e num nível levemente mais elevado, há uma estrada margeada por uma mureta, atrás da qual passam outros homens que carregam nos ombros estátuas e objetos de todo tipo e material.
- os carregadores conversam animadamente entre si e a ressonância da caverna deforma as suas vozes.
- atrás disso tudo, o Sol, ou, um grande fogo que ilumina a cena.
- pergunta: o que será que os homens acorrentados vão pensar das sombras que vêem passar pela parede e da confusa algazarra que ouvem?
- resposta: vão pensar, de boa-fé, que aquelas sombras e aqueles barulhos são a única realidade existente.
- vamos supor, então, que um deles consiga libertar-se e se vire para olhar as estátuas. Num primeiro momento, ofuscado pela luz, sofre e lamenta de dores no corpo, a luz do sol o cega.
- Platão narra um parto: o parto da alma que nasce para a verdade e é dada à luz.
- em seguida, no entanto, depois de sair da caverna e já acostumado com a luz do Sol, perceberia que tudo aquilo que vira até então nada mais era do que a sombra dos objetos sensíveis.
- vamos tentar imaginar o que ele contaria aos companheiros ao voltar para a caverna: “rapazes, vocês não vão acreditar mas aqui fora há umas coisas inacreditáveis!  Uma luz que nem dá pra contar, tão forte que não se pode descrever! E depois umas estátuas maravilhosas, perfeitas, excepcionais, nada a ver com as horríveis sombras que vemos da manhã à noite!”
- ninguém iria acreditar: na melhor das hipóteses iriam fazer torça dele e, se o pobre coitado insistisse, como no caso de Sócrates, poderiam até condena-lo à morte.

Conclusão:

MUNDO SENSÍVEL
MUNDO INTELIGÍVEL
SOL
BEM
 LUZ
VERDADE
CORES        
IDEIAS
 OLHOS
ALMA RACIONAL/INTELIGÊNCIA
VISÃO
INTUIÇÃO
TREVA, CEGUEIRA, PRIVAÇÃO DE LUZ
IGNORÂNCIA, OPINIÃO, PRIVAÇÃO DA VERDADE

- caverna: mundo sensível
- fogo que projeta as sombras na parede: é um reflexo da luz verdadeira (do Bem e das idéias) sobre o mundo sensível.
- somos os prisioneiros.
- as sombras são as coisas sensíveis, que tomamos por verdades, criadas por artefatos fabricadores de ilusões.
- as correntes são nossos preconceitos, nossa confiança nos sentidos, nossas paixões e opiniões.
- o instrumento que quebra as correntes e permite a escalada do muro é a dialética.
- o prisioneiro curioso é o filósofo.
- a luz que ele vê é a luz pela do ser, isto é, o BEM, que ilumina o mundo inteligível e o mundo sensível.
- o retorno à caverna para convidar os outros a sair dela é o diálogo filosófico
- as maneiras desajeitadas e insólitas do filósofo são compreensíveis, pois quem contemplou a unidade da verdade já não sabe lidar habilmente com a multiplicidade de opiniões nem mover-se com engenho no interior das aparências e das ilusões
- conhecer é pois um ato de libertação e de iluminação, é livrar-se da cegueira para vermos a luz das idéias.
- os olhos foram feitos para ver, a alma foi feita para conhecer.
- a dialética é a técnica libertadora dos olhos do espírito.

c) MODOS DO CONHECIMENTO

OBJETOS DO CONHECIMENTO
MODOS DO CONHECIMENTO
MUNDO INTELIGÍVEL

4º GRAU: 
EIDOS (formas, idéias)
NOÉSIS: intuição intelectual
3º GRAU:
TÁ MATHEMA (objetos matemáticos)        
DIÁNOIA: raciocínio dedutivo
 MUNDO SENSÍVEL

2º GRAU:
ZÓA (coisas vivas e visíveis)
PÍSTIS(crença)
DÓXA (opinião)
1º GRAU:
EÍKONES (imagens)
 EIKASÍA (imaginação)

3.5. O AMOR PLATÔNICO

- AMOR É “FILO-SOFO”. A sophia, ou seja, a sabedoria, é algo que só Deus possui; a ignorância é propriedade daquele que está totalmente distante da sabedoria.
- a FILOSOFIA, ao contrário, é apanágio daquele que não é nem ignorante nem sábio, daquele que não possui o saber mas a ele aspira, daquele que busca alcançá-lo e, tendo-o alcançado, lhe foge e deve procura-lo novamente, justamente como faz o amante.
- o verdadeiro amor é desejo do belo, do bem, da sabedoria, da felicidade, da imortalidade, do Absoluto.
- o amor dispõe de muitos caminhos que conduzem a vários graus de bem.
- o verdadeiro amante, porém, é aquele que sabe percorrer esses caminhos até o fim, até chegar à visão suprema do belo absoluto.
- o grau mais baixo na escala do amor é o amor físico (EROS), que consiste no desejo de possuir o corpo belo para gera no belo um outro corpo. Esse amor físico já constitui desejo de imortalidade e eternidade.
- depois vem o grau dos amantes que se mostram fecundos, não quanto aos corpos mas quanto às almas (PHILIA), portadores de germes que nascem e crescem na dimensão do espírito. Entre os amantes na dimensão do espírito encontram-se, em escala de progressão ascensional, os amantes das almas, os amantes da justiça e da lei, os amantes da ciência pura.
- finalmente, no ápice da escala do amor, está a visão fulgurante da Ideia do Belo em si, do Absoluto.
- o amor é vinculado à doutrina da reminiscência, onde a alma contemplou a idéia do BELO, mas esqueceu-se quando veio ao mundo sensível. Ao filosofar a alma se recorda das coisas que um dia contemplou.
- o reflexo da Beleza ideal no belo sensível inflama a alam, que é tomada pelo desejo de alçar vôo e voltar para o lugar de onde desceu.
- esse desejo é justamente EROS, que, com anseio do mundo da idéia, faz despontar na alma suas antigas asas e a eleva.
- amor platônico é nostagia (saudades) do Absoluto, tensão transcendente para o mundo da idéia, força que impulsiona para o retorno à nossa existência originária junto aos deuses.

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